sábado, 8 de novembro de 2008

Anjos Caídos - Capítulo I - Apresentações - Parte III

Fim da tarde. A mão fria da noite chega devagar. As pessoas se avolumam nas calçadas, os carros amontoam-se em disputa de espaço vazio e na avenida, flores disputam espaços com pedestres que teimam em cruzar fora da faixa de segurança.
Um homem em sua bicicleta usa sua roupa branca coberta por finas e dispersas farinhas que voam ao vento. No caroneiro uma cesta de pães pendura-se como malabarista. Ele corre apressado, está atrasado, costura os pedestres e adentra à avenida com displicência. A sinaleira logo a frente vai fechar e ele não irá ver isso.
Do beco sujo par a avenida movimentada saem Lúcifer com o anjo, ele a trás pela mão.
- Quero lhe apresentar Estevan, ele é argentino e chegou aqui há 11 ano, trabalha como padeiro - E aponta para o homem da bicicleta - Tem 5 filhos com uma brasileira chamada Nice. Ela cuida da casa enquanto o marido corre para sustentar a sua miserável família. Distribui comida que na sua casa falta. Ele espera chegar em casa cedo, corre para entregar a última encomenda, mas hoje não é seu dia. Um carro em alta velocidade cruzará a avenida e pegará em cheio o pobre ciclista de pães.
Manakel se afasta de Lúcifer com raiva e violência. Ele ri. Há um carro que cruza a avenida. Percebendo a cena e marcada de preocupação e anseio aponta o braço em sua direção:
- Afasta a dor que beija a morte _ Clama Manakel
O motorista desvia do curso fatal. Bate em um hidrante na esquina onde passa. A água se avoluma ao céu, cobrindo visões dos transeuntes. O jovem ciclista parece ter se salvado.
- Obrigada, pai! - Resa Manakel por pouco tempo.
O jovem corre para passar o aguacedo. Não enxerga nada, a água o atrapalha a visão. Um caminhão tenta desvenciliar-se do tormento. Acelera. Os dois abraçam-se na esquina. A lei da física faz com que Estevan voe já sem vida para o alto e depois ao chão.
- Não! - Manakel vê aquilo em pavor. Ela acredita que fez tudo certo para salvar a vida. Então, o que? Ela cai de joelhos lamentando. Chora encolhida como protegida em útero materno.
Lúcifer a observa em silêncio, calado. Sério.
- Oh, Senhor! Vós me destes o poder de suplantar a dor! E agora em sua ira divina me mostra a face cruel da morte como um castigo a minha queda... - Ela levanta seu olhar para Lúcifer - Ou foste tu, rei das trapaças, que fez a morte se anunciar diante de mim.
Lúcifer levanta Manakel pelo braço e a joga na parede dizendo:
- Tola Manakel! Acaso tu crês que a dor, a morte são obras da causa divina? - Ele segura o rosto de Manakel e força a olhar para o acidente - Olhe, Manakel! Olhe! Veja se não é o homem, que em seu livre arbítrio, procura na imprudência e acaso, a morte!
- Afasta-te, mentiroso! Ser vil! - Exclama Manakel empurrando Lúcifer que começa a rir sarcasticamente. Ele leva a mão ao bolso, tira um cigarro. Ela pergunta - Você ri de mim com total descaso? - Lúcifer esbofeteia Manakel.
- Acorda!
Manakel baixa a cabeça. O tapa dói mais dentro da alma que no rosto. Em desânimo e súplica ela olha par dentro de si e reza.
- Oh, Pai! Falhei mais uma vez. Como na primeira vez. Me rebelei e caí...
- Seja bem - vinda à turma - Ironiza Lúcifer.
- Assim como agora, não pude acalmar a cólera da humanidade e...
- Ainda achas que é tua culpa as falhas humanas? Que de ti depende a salvação dessas pobres figuras?
- O que queres Lúcifer, senhor da mentira.
- Lhe dar um sopro de vida.
- Como?
- Assim...

2 comentários:

Bárbara V.C. Malk disse...

Gostei muito da sua estória, principalmente porque Manakel é o meu anjo e sou fascinada pelos novos anjos caídos! Eu também escrevo estórias, principalmente sobre eles. Gostaria de saber se continuará esta já que não vi postagens recentes sobre ela. =)

oscar freitas junior disse...

olá, Bárbara. Fico feliz que tenhas gostado. Na verdade como estava envolvido em outros projetos ligados mais a contos e crônicas, pouco tive tempo de continuar os Anjos Caídos, porém não me desfis do que fiz até agora, apenas estou reorganizando o material para ficar mais coerente e assim publicar mais conteúdos. Abraços e obrigado pelas palavras.
Oscar