Retirado das memórias insólitas da infância de Leofôncio Cubas.
Quando pequeno onde morava tinha um casal que para nós, gurizada, eram por demais estranho. Era a donha Cidinha e o seu Nereu. É que dona Cidinha tinha aproximadamente uns 2 metros (é claro que para nós isso representava bem mais) enquanto que o seu Nereu tinha uns 1 metro e meio, por aí. Nós sempre olhávamos para eles de forma estranha. Eles no princípio até se chateavam conosco mas com o passar do tempo, se acostumaram a notar os olhares alheios, principalmente de uma gurizada que gostava de arte.
Dona Cidinha, dizia o Guto, era tão alta, mas tão alta que era arcada pela gravidade. Magra do geito que era não tinha como ser reta. O Tiano dizia que era de tanto tentar beijar o seu nereu ficou assim. Já eu achava que ela era um ponto de interrogação e ele um ponto final. Sim, pois o seu nereu era baixinho e gordo, então para achar perfeição naquele casal nós nos acostumamos a chamar de ponto de interrogação e final.
Tirávamos dalí algumas considerações muito interessantes. Uma parte da turma achava que quem mandava alí era a dona Cidinha, pois era maior que ele e parecia mais esguia. Um outro grupo, e eu me incluía nesse, afirmava que quem mandava era o seu Nereu. O nosso argumento era mais contundente: Se a dona Cidinha era o ponto de interrogação, logo perguntava, e o seu Nereu sendo um ponto final ele apenas respondia com uma afirmação e finalização.
Dona Cidinha, diziam alguns sofria dos pulmões. Também pudera, o ar lá em cima devia ser rarefeito e era difícil respirar nessas situações, dizia o Bano. Já o seu Nereu sofria do coração. A minha mãe explicava que era problema de circulação. Eu na minha grande sabedoria já tascava: - O seu Nereu tem problemas de circulação devido ao seu peso. Já imaginou como ele conseguia circular com aquele peso todo por aí?
De qualquer forma era um casal feliz. Não tinha um dia que nós não víamos um afago, um carinho, um beijo carinhoso que ambos se esforçavam para dar (devido ao tipo físico). Mas todo o esforço era recompensado.
Um dia houve uma comoção geral na rua. Toda a vizinhança se alvoroçou. Dona Cidinha batera fortemente com a cabeça na viga de uma porta, e segundo dizem devido aquilo ela veio a falecer tempos depois. Seu Nereu murchou, aquele ponto final emagrecera. Fechou-se dentro de casa e nunca mais vimos ele. Dizem que até hoje ele vive lá na esperança de que a vida e não ele dê por acabado um ponto final, enfim.
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