quinta-feira, 31 de maio de 2007

Soturno - Segunda Feira - Primeiras Horas - Parte II

A chave, a chave, onde ela deixa a chave? Só quero sair, ir trabalhar, ouvir o chefe me xingar, esse tipo de coisa. Nada de "bom dia amor, estou indo trabalhar" (com direito a enfeites de coraçãozinhos e florzinhas voando ao redor dos enamorados).
Onde está? Onde? Onde... Ops! Ouço um movimento na cama. Ela acordou.
- Onde você vai? - Sua voz soa muito mais do que uma mera pergunta. São nestes momentos que o se humano é supremo. Se sair de fininho não dá certo, alternativa B (sempre tenha uma alternativa b)
- Desculpe, amor - a parte do amor é proposital para dar uma amenizada na cobrança - Não queria te acordar você estava dormindo tão bem que seria uma injustiça contigo.
Voa um vazo em minha direção. Eu desvio. Estoura na porta. Por mais que algumas mulheres queiram ser enganadas, ainda existem algumas que não gostam muito (são bravas mulheres).
As chaves, no chão perto da porta, entre cacos de vasos, consigo achá-las. Ao fundo ouço, antes um som suave da voz romanceada se transformar em fúria realista.
Saio como fugido, calças posta, camisa se ajeitando às pressas. Pego o elevador. Ela mora no 18 andar. Entro sem olhar para tras.
Nesse momento, você leitor, deve estar se perguntando: E , qual o problema com ela? Era manca? Não, tinha um andar suave e esguio, cativante. Era vesga? Nunca, tinha olhos de mel e profundos, de certo modo brilhantes. Não tinha dentes? Tinha bafo? Também não. Quando sorria um mundo, inclusive eu, se entregava para ela. Então o que era? Muitas vezes, caro leitor, nos deparamos com a vida a dois, o mundo da cumplicidade conjugal, dormir na mesma cama, usar o mesmo sabonete, ter que recolher a toalha  sempre após o banho, compartilhar escovas de dentes. É, realmente não estou preparado para tanto sacrifício. E combinemos, com essa humanidade que aí está eu me junto a uma legião.
Lucilie. Bela Lucilie. Térreo. Desce.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Soturno - Segunda Feira - Primeiras Horas

Oi! (sim, oi, assim seco, porque não é um bom dia) e hoje é um daqueles dias que não precisava existir: Segunda - Feira. A terça tem muita sorte, se não existisse a segunda ela seria a responsável pelo maior mau humor coletivo de cada início de semana. Além do mais é maio, e por mais que digam ser outono, o frio não deixa de ir embora. Cai uma chuvinha miúda que aparece só para molhar caras como eu que tenho que trabalhar segunda 7:30 h.
Isso sem contar em Lucile, sim, Lucile, com esse "il" bem acentuado. Ela está aqui escondida entre as cobertas, mas seu perfume a denuncia. Em uma visão onírica me vejo flutuando em direção aquele perfume levemente adocicado com toque cheiro de pétalas de rosa. É uma pena, mas dificilmente eu verei ela novamente.
Ok, hora de levantar. Roupas pelo chão, uma linda peça da lingerie de Lucile sob o abajour e minha cueca logo na entrada da porta do seu apartamento. Tenho que perder essa mania de tirar a roupa antes delas. Perde todo o Glamour da sedução. Além do mais quem vai pensar nisso as 3:oo horas da madrugada com três litros de vinho e um de wisk na cabeça? Você pode até pensar que pensa, mas é só olhar a distribuição de roupas pelo chão e você descobrirá o óbvio: Você está mais louco por ela que ela por você. Pode acreditar. E isso lhe traí. E por isso não a verei mais.  Essas coisas são complicadas de administrar.
É preciso inverter os papeis, mostrar o seu poder de sedução. Tente. Você verá que dá certo. Tudo bem, tudo bem, eu sei que não vai ser da noite para o dia, mas a prática alcança a perfeição. Frase manjada? Mas funciona.
Certo, pare de pensar de filosofar e tente sair de um apartamento que nem é seu sem fazer barulho, você pode acordar a dona que ainda dorme...
Continua...