terça-feira, 24 de novembro de 2015

Jessica Jones - A série Netflix

Série Netflix
A Marvel e a Netflix mais uma vez acertando a mão. Jessica Jones não deixa nada a desejar. Uma série que trabalha muito eloquentemente a trama de personagens tipicamente urbanos, heróis com suas dificuldades, com problemas como qualquer ser humano comum. Tanto que os poderes de Jéssica (Krysten Ritter), pouco ou quase nada são explorado. Não é o foco principal ter poderes, é o foco principal um ser com poderes viver de forma cotidiana. Em um mundo real seriam nossos vizinhos e defenderiam nosso bairro. 
Esse ambiente urbano convive em harmonia com a série do Demolidor, tá lá uma personagem que faz o link com aquele outro arco de história. Eles transitam na mesma cidade. As passagens e sacadas dos quadrinhos são muito geniais, quando, por exemplo, sua amiga Trish Walker sugere um uniforme e um nome fazendo referência muito claramente a Safira, seu alter-ego nos quadrinhos antigos. Trish, que por sinal, também se remete a outro personagem, a Felina. Querem uma referência mais clara? Deem uma olhada na imagem de apresentação da série da Netflix e das capas de Alias, série de quadrinhos de Jéssica Jones
Série Alias HQ

Mike Colter, como Luke Cage, não está lá apenas como par romântico, ele é parte daquele universo urbano, faz parte do cotidiano, tem um bar, e sua relação com Jessica se dá devido ao envolvimento dela com o Homem Púrpura, Kilgrave, interpretado por David Tennant, personagem esse que foge do conceito de vilão estereotipado, vive em um conflito perene entre saber quem controla e como controlar, pois cada palavra de ordem é uma execução para a sua vítima.   
O link com o universo Marvel cinematográfico está lá, intacto, como no Demolidor, ainda sob os abalos dos eventos do primeiro filme dos Vingadores, inclusive tem uma passagem em um dos episódios muito interessante sobre esse evento e a resposta de Jéssica a isso é primorosa. Enquanto os grandões tentam salvar o Universo, Jéssica só quer defender o que lhe é mais caro, aquilo que a cerca de forma imediata. Ela não é heroína porque é altruísta, mas pq não acha justo determinadas coisas que acontecem com ela e com as pessoas. 
E como é fabuloso ver aos poucos os Defensores sendo construídos, não como os clássicos das HQ, mas como um outro modo de ver um grupo de super heróis. Os Vingadores te vingam pela ameaça do mundo, do universo; os Defensores defendem você, de um simples atropelamento até de pessoas que querem te controlar.



terça-feira, 9 de junho de 2015

As voltas que Deus dá I

Deus, sem nada para fazer resolveu dar umas voltas pela sua bela criação. Chegou ao Brasil depois de um tempo e no Rio de Janeiro foi conhecer sua obra. Na primeira igreja que chegou, sentou e lá ficou, até que um fiel chegou até ele.
-Posso ajudá-lo?
-Não obrigado, estou bem aqui - disse Deus sentado com os pés no encosto da cadeira da frente.
- Fique a vontade, mas poderia, por favor retirar os pés daí? Estamos na casa de Deus.
- Ora, por isso. Se estou em casa, quero me sentir a vontade, sacar o clima, entendeu?
- Como, senhor?
- Veja bem, como você fica em casa? Assim? de terno e gravata? Não coloca um chinelo, senta no sofá da casa e coloca os pés para descansar? Então, tô fazendo isso.
- Mas essa não é sua casa. É a casa de Deus, tenha mais respeito.
- Olha só, eu estou em casa. Logo fico como estou.
- Quem o senhor pensa que é?
- Deus, caralho!!! Agora vai lá e me deixa.
- Como o senhor ousa dizer tamanha blasfêmia??
- Sério? Vou ter que discutir? Camarada, é o seguinte, estou andando o dia todo, peregrinei por toda essa cidade e agora só quero sentar descansar e curtir um culto, posso?
- Tira o pé daí.
- Não tiro.
O fiel saiu com raiva, esbaforido e voltou com o pastor.
- O que está acontecendo aqui, senhor? Indagou o pastor.
- Cheguei em casa, cansado do trabalho, estou moído, quero curtir um culto que vai rolar para o meu filho e esse rapaz veio me importunar.
- Mas o senhor está na casa de Deus...
- Porra!!! - Exclamou Deus, já perdendo a paciência - Será possível que vou ter que dizer pela milésima vez que estou em casa?
- O meu irmão me disse que o senhor se julga Deus, como ousa tamanha blasfêmia?
- Porra do caralho!!! Agora vou ter que provar minha identidade??
- É o mínimo, senhor.
-Vem cá, quer dizer que tu faz louvores a mim e não me reconhece? Tá de sacanagem!!!
- Prove
- Está bem. Tá vendo aquela fiel lá atrás - disse Deus apontando para uma mulher sentada mais a frente, perto do altar.
- Sim, é a irmã...
- Judite, isso. - completou Deus, para o espanto do pastor - Está grávida de ti.
-C... como o senhor ousa?
- Eu? Tu fica de fornicação com essa galera e eu ouso? A para vá! Maria Pâmela já pariu, tu deu sorte que o marido assumiu, senão já era...
- Por favor, se retire daqui.
- Não me retiro, vim só dar uma descansada e vocês vieram me perturbar.
- O senhor que vem para me chantagear.
- Ei, ei, ei... tu pediu para provar que eu era eu, oras.
- Poderias ter transformado água em vinho.
- Seu alcoólatra, além do mais, meu filho já fez essa parada e tá meio passado, curto uma fofoquinha de igreja, tem sempre uns fiéis loucos para confessar seus pecados, adivinha quem sabe de tudo? Euzinho aqui. - Diz Deus sorrindo maliciosamente.
- Ok, ok, está bem fique aí, só não perturbe.
- Era tudo o que eu queria. - Diz Deus dando uma piscadinha - Ah! Maristela tem gonorreia, se tá pensando em pegar ela vai de camisinha e por favor não bota a boca lá. Fica a dica. - Completa Deus dando um pequeno sorriso e uma piscadela para ele.
- S... sim, senhor...
- Sim, senhor o que?
- S... si... sim senhor, meu Deus.
- Ah, melhor. Pode ir agora.
O pastor vai mudo. Uma das maiores provas da divindade e prever as merdas que homem vai fazer. Ser Deus em um lugar onde o povo tem livre arbítrio é uma bosta, pensa Deus.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Deus em férias

Deus tirou férias. Avisou o RH e se foi para uma praia deserta. São Pedro de posse do documento de férias arrepiou o cabelo e saiu gritando RH a dentro:
- Voces estão loucos? Surtaram?
- Mas o que foi? Respondeu Santo...
- Férias retroativas para Deus? São 5 bilhões de anos de férias acumuladas. Deus é brasileiro, meu querido, ele segue as leis trabalhistas de lá.
- Sim, São Pedro, gritou o gerente do RH, Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. - E ele está no direito dele. Precisa, oras. Disse que vai planejar uma longa viagem pelo mundo dele. A terra, é claro...
- Mas como você deixou isso acontecer, sua louca??? Quem vai comandar a coisa toda aqui?
- Ah, ele tem um filho, e a Maria, a Mãe.
- Bhá, mas o piá tá sempre enrabichado com a Maria, A Madalena. Tão sempre enfiados naquele quarto.
- Chama os apóstolos.
- Psss...
-Tá, vai Maria, mesmo... Ah, ele deixou a necessidade de férias remuneradas?
- Surtou, só pode. O dízimo tá diminuindo e tem um pessoal que tá pegando dízimo lá na terra mas tá tudo indo lá para baixo para aquele Inominável.
- Quem o Lu...
- Shhh, quieta! Não pode falar o nome.
- Não dava pq, Deus não queria, se sentia traído pelo preferido, mas agora...
- Mas agora continua a mesma coisa.
- Então, o que faremos?
- Não sei. Com essa crise econômica aqui, vou ter que apelar para o banco do Inominável. Já que ele está arrecadando no Santo nome dele, nada mais justo.
- Também acho.
- Quem devo chamar para isso?
- Santo Expedito, e Maria, a Desatadora de nó. Causos impossíveis e enrolados só os dois, mesmo. - Diz conformado.
Foram chamados os dois na presença de São Pedro.
- Muito bem, o negócio é o seguinte, precisamos de fundos monetários para pagarmos as férias de Deus.
- Não entendi.- diz Santo Expedito.
- Somente o banco do Inominável tem a quantia necessária para tal.
Nisso entra Maria, a Mãe, que escuta a conversa
- O que vocês querem fazer? Acordo com ele lá embaixo? De forma alguma!!!
- Mas não tem solução Maria - Justifica São Pedro.
- Sempre tem solução para os desígnios de Deus...
- Tudo, menos  isso...
Nisso ouvem o bater da porta do céu. Um anjo chega para eles angustiado...
- Ele... e... o... aquele...
- Fala para fora, guri - grita São Pedro angustiado.
- O Inominável.
- Vou lá, diz São Pedro.
- Não, senhor, ele já está aqui...
- E você deixou?
- Tá, é o seguinte... - chega Lúcifer esbravejando - Vocês só podem estar de sacanagem comigo. Porra, tô lá no meu canto, sossegado, queimando umas carnes e só vejo algazarra aqui em cima. Cade Ele?
- Tirou férias. - Diz Nossa Senhora Aparecida.
Silêncio. Segundos de tensão e o Diabo:
- HWAHWHAWHAHWHAWHA. Pudaqueopariu!!!! HWHAWHAHWAHA!!!! Vocês estão mesmo lascados!!!
- E ele pediu as férias remuneradas. - Completa Santo Expedito
- HWAHWHAWHAWHAHWA!!! - Se contorce de tanto dar risada, o Diabo - Se fuderam!!!
- Na verdade nós pensamos em pedir um favor para você.
- Oi? Como? - o Diabo, sem entender...
- É, aquele dízimos, sabe?
- Ei, tenho ganhado da forma mais injusta possível. Não é nobre da parte de vocês requererem algo que eu estou fazendo por merecer. Depois aquelas alminhas vão tudo para mim. hehehe
- Mas precisamos, os cofres estão quase vazios. Dispensamos até a empregada. Santa Ana que está fazendo o trabalho.
- Tá, olha só, nós vamos pagar, vê uma taxa.
- Alminhas??
- Não, chega. Estão demais - Grita Maria, a Mãe. Vamos nos virar como pode. Sem a tua negociata.
- Não sei, não hei!
- Sabe sim, - Intercede Santo Expedito - Na verdade tu vais dar de bom grado.
- Tá de sacanagem, Expedito. Impossível.
- Na verdade, não. A única forma de você ter aquelas "alminhas" é não tendo interseção por nenhuma delas.
- Hei, hei... Peraí... Eles estão metendo a mão no dizimo de vocês, e mesmo assim podem perdoar?
- Exato - intercede Maria, a Desatadora - Perceba, que a lei máxima "Dizei uma só palavra e serei salvo" ainda vale.
- Opa, opa, opa... Daí e sacanagem!! Pô Maria, a Mãe, intercede por mim aí?
Maria, a Mãe, sorri.
- Você está longe do meu alcance.
- Tá, olha só. Topo. Desde que organizem essa baderna. Tinha anjo vagabundiando lá perto da minha casa. Uma algazarra. Os Santos estão tão soltos que estão fazendo milagre em cima de milagre. Até Santa Úrsula, padroeira dos professores, resolveu dar aumento para a classe.
- Beiiii!!! Exclama Expedito.
- Pois é, tá difícil lá embaixo, e vocês sabem que lá é bem perto de onde moro. Tá, vou rever o caso. Já estou até vendo que é melhor Deus voltar. Esse papo de férias ali perto me deixa com os nervos a flor da pele.
- Então vai nos ajudar? perguntou São Pedro.
- Vou fazer melhor, vou pagar as férias trabalhadas do Pai.
Todos se olharam, assustados com tamanha benevolência do Diabo.
- Então, mãos a obra. - Diz Nossa Senhora Aparecida.
- Só tem uma coisinha - diz o Diabo...
- O que? - Pergunta Maria, a Mãe.
- Minhas alminhas. Nada de interceder.
- Mas é lei.
- É dinheiro, e é meu! Nada desse papo de interceder. Vão por mim, eles estão loucos para acender ao céu e quando virem que o dinheiro foi para baixo, e é para lá que eles vão, vai ser o maior fusuê.
- Tá, trás a lista dos pastores, padres, que não vou interceder. - conforma-se Maria, a Mãe.
Então, Deus, voltou, bronzeado, mas voltou. Estava feliz dos dois dias de descanso que havia tirado. O susto iria se repetir mais algumas vezes. Mas o Diabo, que é esperto porque é velho, já tinha mais umas listinhas para levar até Maria, e está só esperava Deus sair de férias para aprovar.
Tem coisas na terra que acontecem no céu, e vice versa. Não tem jeito...



quinta-feira, 16 de abril de 2015

AMIGO AMOR...
Eduardo e Lucia conversavam:
- Pois é... Como tu é incrível, inteligente, gosta das mesmas coisas que eu gosto. Impressionante. – Constatou
- É, né? Combinamos tanto - concordou ele.
- Lembrei daquela vez no bar, onde rimos muito. – lembrava ela.
- Verdade... – Eduardo percebe a deixa. Então ele se aproxima dela, começa a acariciar seus cabelos. Lúcia sorri. Ele a segura na cintura para puxá-la ao encontro do seu corpo, e então a frase:
- Somos apenas amigos. – Tasca ela.
- C... Como? Pergunta Eduardo sem entender. Sim, ele tinha lido todas as entrelinhas, todas as deixas, tudo parecia claro, apenas parecia...
- não podemos ser apenas amigos?
- Olha, creio que não. Te acho atraente, bonita, inteligente... – Antes que ele possa concluir...
- Eu também te acho tudo isso, mas...
Então ouve-se um trovão, raios caem do céu em fúria. Surge um homem alto, de barba branca em sua túnica desbotada do tempo e grita, sua voz estrondeante retumba nos tímpanos mais surdos...
- Porra!!! Então tu chora por não encontrar o homem da sua vida e quando ele aparece tu quer ele para seu amigo??? - Grita, enfurecido o homem descendo das nuvens.
- Qu... qu... quem é você? Diz Lucia, atônica, gaguejando.
- Tu não reconheces mais essa barba e esse pano velho que até meu filho preferido já usou?
- N... n... não...
- Sou Deus, caralho!!!
-D... Deus???7
-Para de gaguejar que isso está me irritando...
-Tá... Como assim... Deus?
- Deus, oras! O onipresente, onipotente, inodoro e as vezes insípido. E estou aqui para resolver esse pequeno perrengue.
- Mas você faz isso sempre?
- Você? Grita Deus fuzilando-a coma os olhos!
- Upss, quer dizer... o Senhor...
- Melhor... Tá, vou te confessar que tenho estado meio ausente e algumas vezes faço umas interferências meio que diretas. Faço vcs beberem além da conta, dormir só de roupas íntimas na mesma cama. Mas as vezes vocês se superam. É tanta merda que vocês fazem que as vezes abusam do seu livre arbítrio. Pelo amor a mim, credo!! Vocês são fodas.
- E você decidiu fazer essa interferência justamente conosco? – Pergunta o Eduardo, com um sorriso nos lábios.
- É, mas te aquieta. Tô fazendo uma baita mão para ti. Atééééé conseguir arrumar uma oportunidades para vocês encherem a cara e se beijarem ou dormirem só de roupas íntimas, estarão velhos e broxas. Então tive que fazer uma interferência, digamos mais ortodoxia.
- Legal... – diz Eduardo baixinho para ninguém escutar...
- Eu ouvi isso. Diz Deus apontando para Eduardo que fica corado de vergonha.
- Tá, e como vai ser? – Pergunta Lúcia.
- Como vai ser... qual a palavrinha mágica? Vamos lá, fiz por merecer o título.
- Aff... Como vai ser, Senhor, meu Deus.
-Melhorou... Bom, o processo é simples tu aceita ele na boa, ou te faço uma lobotomia e tu esquece ele como teu amigo e vai sofrer por amor pelo resto da vida.
- Credo... Que dramático...
- Minha filha, já incendiei, lancei praga, já inundei o mundo e até fiz água virar vinho. Vai por mim, é barbadinha te lobotomizar...
- E meu livre arbítrio, onde está?
- Olha só... é sacanagem invocar essa lei...
- Pois eu invoco – Grita ela...
-Veja bem, minha filha – Diz Deus tentando ponderar... Vai por mim, o amor pode estar na tua frente...
- Pode estar, poder não é ser... não sei... prefiro ele como amigo...
- Vem cá, então eu desço lá do meu descanso celestial, com minha trupe de anjos e você vai me ignorar assim?
- Vou...
Cabum!!!! Um raio corta o céu e dá no meio da cabeça dela.
Ela com a maior naturalidade sai andando como se a passeio.
Eduardo dá um pulo para trás de susto
- O que é isso! - Exclama!!
- Apaguei a mente dela. Agora ela não te conhece e você poderá dar em cima dela e ela se apaixonar por ti como deveria ser. 
- Mas eu não quero isso. Quero que ela goste de mim como eu sou...
- Blá, blá, blá... Já ouvi essa história. Não vai rolar... Ela não vai nem te olhar direito como homem... Mulheres são assim, meu filho... Está na frente dela mas ela não enxerga...
- Tá, mas não gosto assim...
- Poutz, olha só. Não tem como voltar, já fiz tá feito. Imagine se eu tivesse que voltar em tudo que eu faço. Não haveria mais dilúvio, o mar não se abriria, etc, etc, etc...
- Mas o que eu faço? Ela tá ali olhando perdidinha...
- É né? Melhor, assim quando ela voltar os olhos para ti vai se apaixonar. 
- Prefiro ao natural.
-Aff!! Porra, tu é um saco, caralho!!! Toma!!!
E outro raio cai na cabeça de Eduardo. Ele também sai caminhando...
Deus a tudo observa sentado no banco.
Passam-se alguns instantes... Eduardo, parece olhar para o celular e não vê uma mulher que se aproxima na mesma direção e que também olhar para o celular. 
Se esbarram.
Os celulares caem no chão e ambos se desconcertam com a situação. Se agacham para pegar batem a cabeça, caem no chão, sorriem uma par outro, se olham.
- Desculpe, 
- Desculpe.
-Não foi nada. Tu passeia sempre por aqui? Pergunta Eduardo
- Sim. Sempre.
- Como nunca te vejo?
- Deve estar prestar atenção mais ao celular.
Ela ri. Ele também.
- Qual é seu nome?
- Lucia. 
- Prazer, Eduardo. Aceita um café?
-Assim direto? Hmmm... Tá...  - Sorri maliciosamente. 
Aquele fora o primeiro dia de muitos que vieram, se apaixonaram ali, tornaram-se felizes e viveram uma vida de boa. 
Deus escreve certo por linhas tortas, mas as vezes ele apela para a caligrafia. 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Amor Abutre

Então você compra um smartphone novinho em folha. Última geração, com todas as tendências da atualidade. Resolve usar o auto corretor de mensagens para agilizar aquela "dedação" toda que é digitar no wats. Manda a sua primeira mensagem para a aquela gata, linda que você está afim. Pensa na mensagem da seguinte forma:
"Oi, meu amor!!! Saudades por ti."
A mensagem vem meio que imediata.
"Como assim?"
Ele imediatamente pensou em uma mensagem e escreveu:
"Como assim, o que?
Ela, mais que imediatamente respondeu:
"Idiota" e um smile com carinha enfurecida.
Ele, confuso olhou mais uma vez na tela do seu ultra, multi, super smartphone geração plus e leu o que pensava ter escrito, mas:
"Oi, meu abutre!!! Socadas em ti"
"Como sim, o que"
Esboçou com um soco no ar e esbravejando.
- Maldito corretor!!!
Tentou, acalmar e mandou outra mensagem.
"Esse puto do meu corretor automático, desculpe"
Mas lá estava escrito "Esse puro do meu corredor automático, descubra"
Finalmente do outro lado um sorriso.
kkkkkkk. "Desliga essa geringonça". Dizia o texto da menina.
Ele na dúvida, e com medo lançou um smile piscando para ela. Esse não tinha como errar.
Mesmo assim, permaneceu com o corretor, achava mais prático.
Apesar de as vezes lhe causar constrangimentos, geralmente seu corretor fazia correções de forma a tornar a palavra menos agressiva. Ele o traduzia com uma sutileza sem tamanho. palavras como "merda", puta", "vaca"(dependendo do contexto),  e "prostituta", eram sumariamente substituídas por "mera, pura, vara, e postulante".
O rapaz até não reclamava muito disso, mas o amor, ah... o amor, esse era complicado. Não tinha, de forma alguma, mesmo soletrando e ensinando ao corretor a palavra amor sempre saía abutre, ou na melhor das hipóteses algumas palavras similares como avon, por exemplo. Sabia o nome de um cosmético, mas saber amar era difícil. Era preferível ser um suave perfume, ou um animal que come carniça do que ter um dos sentimentos mais enobrecidos. Nada de amor.
O corretor, dentro da sua modernidade, segundo o rapaz, veio configurado com essas novas tendências modernas, o do uso descartável das relações e deixadas a esmo a espera de um abutre que a consiga digerir. E, nessa questão nada melhor do que o abutre para representar esse novo amor que nasce no coração desses amores carniça.
O amor não estava no vocabulário daquele inóspito e insensível corretor. O amor abutre, assim ficou conhecido, tornou-se uma espécie de comedor de corações abandonados, inóspitos de tanto mal usado. O sentimento nobre, altivo dava lugar para um ser que come o que de resto lhe sobra, os corações apodrecidos. 

domingo, 6 de julho de 2014

Davi e Golias em tempos modernos

Os Ex amores vivem em um plano distinto dos demais. Alguns dizem que eles vivem em um limbo, o que concordo, se bem que uma grande parte preferiria que eles vivessem em uma espécie de inferno astral.
Conhecemos, nos enamoramos, flertamos, trocamos confidências, carinhos, afetos, salivas, e as vezes, até escova de dentes. Fizemos planos, colocamos toda uma carga emocional, e então, por algum motivo, tosco para alguns, mas determinante para o casal, viraram ex. 
Astroaldo conhecera Rufia assim. Se olharam, se apaixonaram e se separaram. Ambos queriam, que se fosse possível, o outro mudasse de cidade, país, planeta, mas não foi assim. Permaneceram na mesma cidade. E era inevitável um encontro. E foi o que aconteceu. 
Astroaldo saiu para a noite. Em uma dessas, em um bar onde todo mundo cruza, mas todo mundo mesmo, até a sua ex, encontrara-a nos braços de seu atual namorado, Alto, grande, gordo, e Astroaldo, baixo, barrigudinho e desbocado. Trocaram olhares, se analisaram, olharam-se dos pés a cabeça. Astroaldo demorou mais para fazer essa análise, devido o tamanho do rapaz, achava-o mais feio que ele, mais desengonçado, se achou mais bonito, esbelto que o seu sucessor, um sorriso de vitória estampou-se no nos seus lábios. 
E em algum momento não descrito, e tão pouco compreendido, Astroaldo soltara alguma piada infame ao namorado da ex. Usando de toda a sua corpulência o atual veio em sua direção.  Astroaldo sentiu um arrepio na espinha e um arrependimento súbito veio-lhe a mente. Palavras ao ar, palavras ditas, não tem retrocesso, não tem volta. 
Ele pequeno e o namorado gigante seria uma tragédia anunciada. Astroaldo não tinha como escapar ao enfrentamento, já sentia em seu corpo os hematomas de um breve futuro que se anunciava, só pensava: "não bate no rosto, não bate no rosto!!!", seria inevitável pelo tamanho, pois era o primeiro lugar a ser alcançado. Precisava de uma outra estratégia. Tudo isso acontecendo em segundos. O rapaz veio em direção e colocou-se a milímetros de Astroaldo, era o fim. 
- O que você disse? Resmungara o namorado. 
Astroaldo não poderia voltar atrás, seria sua derrota moral, sua reputação estava em jogo. 
- O que você escutou... - respondeu Astroaldo mantendo a pose. 
- Repete se é homem! - Exclamava o namorado. 
Segundos de silêncio, Astroaldo engole em seco a saliva. 
- Até repetiria se soubesse exatamente o que disse. - ironizou.
- Baixinho covarde. Repete!
Então...
- Veja bem, chegamos a um impasse... - Tascou Astroaldo.
- Como? 
- É chegamos a um impasse. A uma situação quo, a um momento em que devemos nos digladiar ou discutir a respeito.
- Vou discutir com minha mão enfiada na tua cara! Gritou enfurecido o namorado levantando a mão.
Astroaldo já imaginou aquela mão lhe esbofeteando a cara e arrancando-lhe alguns dentes, e tascou:
- Pode ser, mas seria um equívoco. - sua frase tinha que ser curta e provocar alguma emoção contrária a reação do rapaz. E conseguiu.
- O que?
- Veja bem, você tem quase o dobro do minha altura, só a tua mão é do tamanho da minha cabeça. Em tempos onde não existem mais nem Davis nem Golias, eu certamente perderia para você com um só golpe. 
- Não conheço nem um Davis nem Golias. Tu me provocou, cara!
- Sim, talvez na emoção da circunstância, talvez elevado pelo álcool, quem vai saber? O fato é que se você desferir algum golpe em mim terá executado o lógico e óbvio. Não tenho escapatória. Mas o fato de nós partirmos para a briga física significa que todos os argumentos de racionalidade foram para o espaço. Sobrando apenas a selvageria. 
- É, mas tu não foi nada racional ao ofender a mim, e minha namorada. 
- Veja bem, nós poderíamos sentar em uma mesa de bar e discutir a situação e até te dizer que ela nunca vai gozar contigo como gozou comigo. 
Limbo temporal
Astroaldo fora levado para o hospital com fraturas nas costelas, sem 4 dentes, com um olho roxo e dois dedos da mão direita pelo avesso. 
Tem vezes que não há razão que resista a imbecilidade.   


sexta-feira, 20 de junho de 2014

O Amor é uma Droga

Só mais um dia. Estou sóbrio há três semanas, 2 dias e 14 horas. Não, não sou alcoólatra, muito menos uso drogas. Eu amei, ou algo muito semelhante a isso, e não me venham com essa de que amor é amor e ponto, não me convence.
Todos os dias me levanto, tomo meu café e digo para mim mesmo: "só por hoje". Não é fácil, vou dizer, com todas essas tecnologias e comunicação é praticamente um ato heróico se manter sóbrio. É um whats lançado a esmo, um face numa curtida ou mensagem furtiva e o tratamento vai para o espaço. 
Acredite amigo, as tentações são grandes. É muito acesso a esse tipo de drogas no mercado. 
Isso piora consideravelmente quanto estamos bêbados, nosso celular com a bateria bombando, grita, berra para fazermos uma besteira. Descobre-se aí a força de vontade de um viciado, o quanto nós, apaixonados temos que lidar constantemente com o fato de não ceder, não se entregar. Aí você diz: "Vai lá, tome coragem, mostre-se". Mostrar-se quer dizer ficar refém, vulnerável. Nossa integridade nesse momento deve ser preservada. 
É um vício danado esse, hã cura, sei, o tal tempo, mas cá entre nós, esse tempo tem suas mensurações distintas para cada viciado, e para cada dose do quanto a droga te afetou, alterou suas percepções, noções da razão, da lógica. O Vício diz: "vai lá, mais uma dose", e o viciado em recuperação briga constantemente contra isso. Entendo os alcoólatras, drogados em cocaína, craque, drogas sintéticas e outras substâncias, são eternos viciados na tentativa de controlar uma droga que os tira do prumo. Mas acredite, amar é a pior das drogas. Ela te tira do centro, te desconcerta, te arremessa ao sentimentalismo absurdo que obscurece a razão. Te deixa embriagado e muitas vezes, na sua grande maioria ofusca sua visão. É, meu amigo, não ame. E se for amar deixe que lhe ame também, assim podem, os dois curtir o barato juntos.
Acabo de lançar um whats, não houve respostas... vácuo...
Estou sóbrio há cinco minutos, 32, 33, 34 segundos...