Em uma de suas passagens o personagem V, de Allan Moore na Graphic Novel V de Vingança, diz o seguinte para o Finch, personagem da trama, que o ameaçava com uma arma: " Você pretendia me matar? Não há carne nem sangue nesse manto para morrerem. Há apenas uma ideia. Ideias são a prova de balas". Essa Graphic Novel nunca foi tão atual quanto nos dias de hoje. Em um ambiente inglês totalitário, surge uma pessoa que representa a liberdade, mas pela vingança. A proposta é a destruição das instituições assim constituídas e a liberdade da população, que começam a ver as ações de V como forma de se libertarem do totalitarismo. Quando finalmente V consegue desestabilizar as estruturas de estado, a população sai às ruas e o caos se estabelece. Saques, vandalismos são registrados. O governo tentando reverter a situação e "recolocar" tudo no seu devido lugar planta informações a respeito da morte do Ati-Herói, e em auto falantes implantados nas ruas de Londres informa: "O terrorista foi baleado, a insurreição acabou, por favor, retornem às suas casas e familiares", ou seja estava morto a liberdade, a esperança da vingança. V realmente fora ferido mortalmente, mas como sua ideia não morre, logo é substituído. Suas últimas palavras são emblemáticas: "Eve, aquele que me aguardava me chamou. Não tenho muito tempo...Esse país não está salvo...não. Não se iluda...Mas todas as velhas crenças tornam-se destroços...E, dos destroços, podemos reconstruir. Essa é a missão deles. Governem-se a si mesmos. Suas vidas, amores e terra. Com isso alcançado, que falem de salvação. Caso contrário, certamente serão carniça". Portanto não morre a ideia, mas apenas o homem que ali representava isso. No filme, toda a população no final usa sua máscara ratificando a proposta.
Esse emblemático texto remete-se hoje ao nosso tempo, resgatando o espírito da Vingança, jovens saem as ruas, com as máscaras do V. Esse símbolo não esconde por trás um rosto anônimo, ele é conhecido por todos nós. É o povo brasileiro, sofrido há décadas de descaso de suas reivindicações e seus anseios. Alguém ousará dizer, "mas não sabem votar, então". Não, somos jovens demais democraticamente, temos muito o que aprender. Posso colocar alguns pontos que ainda são lembrados pelo imaginário popular. Posso começar pela venda das Estatais no governo FHC, é de conhecimento de todos as formas escusas como foram feitos os leilões, tudo dentro da lei, claro. Temos também o painel de votação do Congresso Nacional. Pulando um pouco vamos ao governo Lula, e o seu mensalão, depois eleitos e reeleitos cidadãos que nem poderiam estar livres, quanto mais sendo presidente do Congresso como Renan Calheiros, associado a isso, Collor torna-se um dos principais aliados do governo federal. Ah, não se esqueçamos de Marcos Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos, tão criticado pela população. Depois veio a Copa, nosso sonho, nosso sentimento de pátria de chuteiras finalmente seria realizado. Mas mais uma vez, fizeram com que nosso sonho se torna-se um pesadelo, gastamos o equivalente a três Copas do Mundo e ainda vem mais por aí, tem as Olimpíadas. Tudo o povo aguentou, até que de repente descobriram as redes sociais como forma de se organizar e anonimamente começaram a convocar as população para reivindicar seus direitos, primeiro por passagem pública de qualidade, depois, bom, depois essa mesma população começaram a querer mais. Querem mudança. Por isso os políticos não compreendem o que está acontecendo, não adianta baixar as passagens de transporte coletivo, e a qualidade? Será muito mais que isso, como é mesmo o slogan "não é apenas por R$0,20". Realmente não é. O povo quer apenas Vingança. Vingança por tudo aquilo que citei acima e muito mais. Querem Vingar, apensa Vinga a Pátria Livre.